domingo, 27 de janeiro de 2013

RELATO DE EXPERIENCIA INTERIOR DE UM ARTISTA NO CAMINHO DA CRIAÇÃO

Encontrei a indicação desta tese de mestrado de uma antiga colega da Unicamp (Soraya Maria Silva, turma de dança - 1986) e nela este lindíssimo texto em que fala de sua experiência pessoal no processo de criação artística de seu trabalho e tese intitulado "Profetas do Movimento".  É coisa de encantar mesmo! Obrigadíssima, Soraya! Onde estará você??


Transcendendo o acadêmico em diria;ao aos caminhos da realização artistica vivenciei situações e emoções peculiares. Desde a escolha ancestral do tema da pesquisa, as angustias e alegrias passadas e vividas, as pessoas que perdi e as que ganhei, na sublimação dos afunilamentos e expansões no decorrer do processo da pesquisa.

No Adro de Congonhas, me descobri e me vi. A imposição, sem escolha, da descoberta da culpa e do pecado como caminho de conhecimento e amadurecimento das relações e dos sentimentos do Homem ... Quando se esta muito distante dos desejos e emoções pessoais e se arrisca um olhar interior mais aprofundado, depara-se, na maioria das vezes, com monstruosas dificuldades, impostas pela moral, pela educação religiosa e pelas regras sociais. Neste contexto a obra do aleijadinho inaugurou alguns caminhos para a minha viagem interior. Ele abriu as portas trancadas da emoção e me conduziu sorrateiramente as dimensões insondadas, onde é permitido vivenciar a morte, a vida, o ódio, o amor e todas as possibilidades secretas do coração, da razão e das sensações, sem os bloqueios cotidianos.

No Adro de Congonhas, não há lugar  para a inocência, ali se descobre que existe pecado, que se é pecador e que a culpa é o maior castigo e o maior caminho para a sublimação. E aí os Profetas "acusa dores", percebem quando o "observa a dor" esta preparado para o conhecimento maior e o libertam do peso petrificado do pecado e tiram do "observa" a "dor", e instauram  a "observa a ação". Desta forma os Profetas do Aleijadinho humanizam o olhar dos que observam, despertando para o movimento a ação interior.

No Adro, o meu olhar foi gradualmente humanizado e na "expect ativa" fui libertada para o grande vôo mediado e indicado pelo gesto do Profeta Abdias, no espaço infinito e atemporal do abraço de Deus; um Deus Pai que dança com os Profetas de Congonhas.  Ao despertar destas reações internas no ato de observar a obra vivenciei o drama de criar a ação, em um impulso criador que se concretizou através do meu silencio, da minha negação e da disposição de transformar estas fraquezas em forças na determinação de estruturar a desordem em ordem, e no empenho da realização teórica e prática da dança dos Profetas em Movimento.

Durante o trabalho de pesquisa me expus ao ridículo e ao maravilhoso, tanto no papel de observadora quanto no papel de realizadora a partir da tradução/interpretação da obra observada. 0 resultado dessa "realiza ação" é rico na sua multiplicidade, os "observa dores" serão vários e várias serão as suas fruições. Com os Profetas aprendi a aliança com o Divino, na caminhada e na luta quotidiana pela eterna organização do caos e reconstrução do "mundo novo". E a minha dança e a minha oração, o meu aprendizado e a minha poesia, a forma de expressar os meus sentimentos diante da realidade da vida. Ao final desta etapa salmodiarei como  Davi:

 

"( ... ) Transformaste o meu luto em dança, e minha roupa de luto em roupa de festa. Por isso o meu ser canta para ti, e jamais se calará.  Javeh meu Deus, eu te louvarei para sempre (SI 30, 12-13).”

 
FIM

Por Soraya Maria Silva - Unicamp - 1994

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