domingo, 15 de maio de 2011

TEMPO E CONTA

Quem tem tempo não espere tempo,
É forçoso do meu tempo já dar conta!
Mas... como dar sem tempo... tanta conta??
Eu... que já gastei sem conta (!) tanto tempo??...
Para ter a minha conta feita a tempo
dado-me foi tanto tempo... e não fiz conta!...
NÃO QUIS, sobrando tempo... fazer conta...
Quero hoje fazer conta e falta tempo!!!!...

Ah! Vós que tendes tempo sem ter conta!!!
Não gasteis este tempo em PASSATEMPO!
Cuidai, ENQUANTO É TEMPO, em FAZER CONTA!!!
Mas... ah!... Se os que contassem do seu tempo...
fizessem desse tempo alguma conta...
Não choravam como eu em NÃO TER TEMPO!!!!!!

(Desconheço o autor desse poema. Decorei-o numa aula da 7a. série do então ginásio só para ganhar ponto na minha nota... NUNCA MAIS O ESQUECI!!!!!   E VIVA A MEMÓRIA VIVA!!!!!   Iuiú Botelho)

sábado, 14 de maio de 2011

Iuiú Botelho - Memorial de uma bailarina maluquinha

(Iura Breyner Botelho – maio/2011)





















Desde que me entendo por gente sou artista cênica com alma de poeta. Ver o mundo e transformá-lo de alguma forma é para mim tão natural e orgânico quanto respirar, beber um copo d’água ou me mover. Meu sonho de criança era ser uma estrela dos palcos da Broadway, nada menos, compondo canções, dançando, cantando e representando, como nos filmes musicais com Fred Astaire e Gene Kelly. Também sonhava em estudar astronomia no Monte Palomar, na Califórnia, EUA (onde havia então o maior telescópio da terra), e descobrir talvez alguma estrela nova à qual eu pudesse dar meu nome. As ambições de uma criança não se preocupam com protocolos de aparente humildade; ela simplesmente deseja e pronto... e... por que não???

Tive nestes dois últimos anos que repensar os meus projetos de vida voltando talvez a estas lembranças para encontrar aqui dentro os verdadeiros motores do meu “barco interior”, bem como o leme que o direciona.

Por razões de sobrevivência e independência financeira dos meus pais, há mais ou menos quatorze anos optei por trabalhar no ramo público/burocrático deixando a dança e o teatro em segundo plano.

Trabalhei como contato publicitário, como recepcionista bilíngüe e até como recepcionista-vigilante (área de segurança patrimonial), em que tive que fazer cursos de “defesa pessoal”, armas de fogo e tiro (imaginem! Minha nota no tiro a 200 m foi 8,9...e derrubei o instrutor de defesa pessoal – um bombeiro de 1,85 m – não sei se por acaso ou por graça do homem, na demonstração de um golpe!!...), brigada de incêndio e primeiros socorros. Depois prestei concurso público para o Tribunal de Justiça do Estado e passei a trabalhar como escrevente, cargo que exerci até julho de 2009, quando me concederam uma licença não remunerada de dois anos, que já havia requerido por razões de estudo. E por que resolvi passar dois anos sem dinheiro e sem trabalho??? Porque senti o imperativo de voltar a dançar e estudar as matérias que dizem respeito à minha arte.

A verdade é que eu estava ficando doente longe das salas de aula, da barra, das polainas e sapatilhas, dos laboratórios de criação e composição coreográfica... e também dos livros de filosofia, história, antropologia e arte. No entanto a pergunta ainda persistia: “por quê?” Por que esta necessidade? Por que a dança e não qualquer outra arte? A resposta eu a encontrei nas lembranças daqueles anos em que o sonho e a ambição de algo grande que viesse de dentro e me ultrapassasse em limites não tinham vergonha ou pudor de ser o que eram: puro desejo de ser, nada mais.

Este desejo me levou desde pequena a montar espetáculos de variedades caseiros, a aprender a tocar violão e piano, a compor canções e pequenas coreografias, a escrever pequenas peças teatrais (não posso me esquecer da minha grande obra dramatúrgica: “Joana, a fujona”, a qual minha irmã e minha mãe ameaçavam mostrar aos namorados que eu arrumava nos anos de juventude e que me causava horror de humilhação pelo estilo carregado, dramático e moralista que a aproximava dos dramalhões mexicanos de então), estórias de ficção científica e poemas apaixonados. Assim que vim para Campinas tratei de buscar formação artística que me conduzisse de alguma forma à meta sonhada. Fiz ballet, jazz, sapateado, teatro, piano, canto coral e lírico ainda antes de entrar na faculdade. Queria então ser uma atriz completa e buscava os meios para tal empreendimento.

Porém, quando começaram a surgir as primeiras oportunidades comecei a me retrair, por medo do ambiente que contrastou sempre com a formação moral recebida de meus pais, que mesmo hoje não rejeito, ao contrário, valorizo mais. Um acontecimento envolvendo minha atuação em uma peça teatral, marcou-me profundamente e acentuou o medo dos palcos e outros ambientes artísticos. Não abandonei as aulas de dança, mas não tinha muita motivação para apresentações públicas. Ainda assim, consegui participar de dois festivais de dança naqueles anos (1986 e 87), mas nada que me comprometesse muito.

Prestei vestibular para Dança na Unicamp, entrando em 1988. Demorei um pouco para entender e absorver a mentalidade universitária, em que experimentação e des-acomodação eram as palavras-chave. Afinal, tudo o que eu queria era me aperfeiçoar na técnica e continuar a criar coreografias no estilo “Broadway”, para depois de formada abrir uma academia, ou ir para Nova Iorque, como qualquer outra bailarina estudante da minha idade. Sofri um pouco na alma e no corpo – bolhas nos pés, pequenas lesões, “travas” no processo de aprendizagem e de criação pessoal, solidão, dúvidas, tristezas –, mas por fim comecei a mudar e a baixar minhas defesas contra a nova visão de corpo e de sua arte.

A universidade me abriu o campo para a pesquisa em relação a este, ao movimento, à criação e à cena. Através das diversas modalidades práticas de dança ali ministradas fui quebrando meus preconceitos e me abrindo a novas possibilidades de expressão e movimento. Ao mesmo tempo, através das aulas de técnica clássica e moderna, pude ter uma visão mais orgânica, isto é, a partir da própria experiência corporal, dos exercícios e suas propostas, de forma que fui ganhando tônus muscular e flexibilidade articular, o que contribuiu muito para que eu fosse me integrando melhor nas aulas.

O passo seguinte seria a quebra do muro que construí entre os palcos, o público e eu. Tal quebra, penso honestamente, ainda não se deu cem por cento até hoje, porquanto ainda sinto suarem as palmas das mãos ante a possibilidade de me apresentar em qualquer circunstância, mas na estréia e apresentações seguintes do trabalho prático de Montagem Cênica – o TCC de então – em setembro de 1992, pude experimentar o primeiro grande golpe, que então me libertou dos vínculos de uma identificação negativa com o trauma, a ponto de de eu me sentir de novo à vontade ali, como que novamente em casa.

“... conforme prometera a nossos pais...” tratou-se do trabalho acima referido. Foi uma performance em dança contemporânea, cujo tema era o “morrer para nascer de novo”, representado nas formas e movimentos inspirados na relação com o barro, a terra seca e a água.

Trata-se esta performance de uma síntese auto-biográfica; a história de minha conversão religiosa ao Catolicismo na juventude, seu processo e desdobramentos sobre minha vida em seus primeiros anos. O seu roteiro foi construído por imagens metafóricas contrapostas como o seco e o úmido, o pesado e o leve, o sujo e o limpo, o velho e o novo, a dor e o júbilo, a fraqueza e a força, tudo isso em movimento convergente e divergente cujo centro é uma grande cruz de madeira contendo um discreto terço – figurando uma oração mariana – e um vestido branco simbolizando uma nova vida, um recomeço. Neste processo de construção criativa surge quase que espontaneamente a figura de uma misteriosa mulher que medeia todo o processo, cuja aparição está intimamente ligada à cruz e que demarca o ponto de intersecção entre o “vir” e o “ir”, entre o “abaixar-se” para a cruz e o “elevar-se” a partir dela. A mulher grávida com a bacia d’água representa o arquétipo feminino sintetizado na figura da Mãe de Cristo, Santa Maria, o qual pode ser diretamente associado ao elemento água, onde toda nova vida começa (interessante ressaltar que a colega que participou comigo desta montagem estava no 6º mês de sua gravidez). Este trabalho, apesar de tão pouco polido nas suas dinâmicas e movimentos, teve uma importância tão grande para mim que ainda hoje influencia meu processo de criação, bem como a sua temática, de forma que ainda fomento a idéia de remontá-lo em algum momento.

O que acontece é que depois dele só me apresentei a grupos reduzidos em espaços alternativos e sem pretensão profissional. No ano seguinte ao de minha conclusão do curso passei a trabalhar como professora de musicalização infantil e dança, me envolvendo cada vez mais com estes trabalhos de forma que o treino e a continuidade do processo de criação foram ficando para um segundo plano. Ao cabo de dois anos eu mal fazia uma aula de contemporâneo por semana e acabei tendo que pedir uma licença médica por um esgotamento físico que afetou seriamente as minhas cordas vocais. Depois de quatro meses retornei às aulas, mas já com o propósito de me dirigir para uma área mais burocrática que não exigisse tanto da voz, como a arte-educação e o ensino da dança e da música a crianças pequenas.

Entre 1997 e 2009, minha atuação e prática da dança se resumiu aos meses das férias, em que eu procurava tirar o atraso do corpo. No entanto a vivência entre trabalhadores assalariados como eu e depois entre os colegas do Poder Judiciário, que são ricas em situações de tensão e conflito por conta das muitas injustiças sofridas por parte dos que mandam, proporcionaram-me temática e material de sobra para a criação de trabalhos cênicos. Como eu não tinha um espaço em que pudesse construir e apresentar estes trabalhos, fui ficando com essas impressões represadas dentro de mim até que começaram a afetar meu equilíbrio psico-físico. Apareceram dores em todo o corpo e comecei a sofrer de ansiedade e depressão.

Em 2008 meu pai faleceu. Foi a gota d’água para que eu repensasse a validade do trabalho que eu realizava como escrevente judiciária e a importância de retomar o trabalho como bailarina e pesquisadora em artes cênicas. Olhando prá dentro de mim, como também para cima e para frente (para cima no sentido de uma retomada de valores; para frente no sentido de perspectiva futura), retornei à Unicamp no intuito de redescobrir e retomar o processo interrompido de desenvolvimento artístico.

E aqui estou eu: de volta ao mundo das aulas, com tudo o que elas supõem; controle alimentar, exercícios continuados, concentração, sapatilhas, meias, collants, coques e tudo o mais; inclusive leituras específicas. Em 2009 me matriculei como aluna especial numa matéria teórico-prática da pós em dança: AT-318 - A - Tópicos Especiais - Processos (em) Criação com ênfase nos aspectos encontrados na German Dance, pela qual retomei um pouco do trabalho prático e da rotina de leitura de textos relacionados à matéria. No ano seguinte (2010) matriculei-me em aulas de contemporâneo em uma academia próxima à minha casa. Continuei cursando matérias da Pós graduação no Instituto de Artes como aluna especial, o que foi prá mim uma excelente ferramenta para reaprender a estudar e escrever para trabalhos acadêmicos.

Em 2011 intensifiquei o treino prático passando a fazer na mesma academia e em outra, aulas de técnica clássica de nível intermediário, acrescentadas de outras de condicionamento físico, contemporâneo e jazz, somando aproximadamente 3 a 4 horas de treinamento técnico por dia. Posso dizer que estou em forma agora, mas procurando a cada dia alargar as fronteiras entre a minha vontade e os limites do próprio corpo. Além disso estou muito feliz e motivada, pois redescobri a técnica clássica como um novo território – não tão difícil e desértico como antes parecia – a ser explorado com organicidade e prazer, tornando-se uma ferramenta poderosa e acessível ao desenvolvimento e à codificação da minha linguagem pessoal na dança.

Tamanha foi a minha surpresa ao perceber o rápido desenvolvimento alcançado com este trabalho que resolvi mudar a proposta de pesquisa para mestrado em dança – antes focada na utilização de figuras e imagens como ativadores da memória afetiva e corporal no processo de criação em dança contemporânea e teatro – para um projeto prático de estudo e análise dos efeitos dos exercícios de ballet sobre o meu próprio corpo e desempenho artístico durante um período de um ano e meio de treino intenso e constante.
Ao final de julho de 2011 retornei ao meu posto de trabalho no Tribunal de Justiça do Estado, passando a cursar uma Pós (latu sensu) em História da Arte aos sábados em São Paulo na FPA - Faculdade Paulista de Artes. O plano é para que termine ao final deste ano, no próximo semestre, se Deus quiser.
Assim, penso que estou em condições de alçar vôo em direção ao meu destino profissional sob as asas dos velhos e bons sonhos da infância e adolescência. E desta vez sem medos, nem travas!

Mas... (sempre tem um "mas"...) e se não for assim? E se eu tiver que permanecer até a aposentadoria no Tribunal? Então farei do velho TJ as asas que me levarão ainda muito além dos meus sonhos... Afinal... se a Providência continuar prá lá apontando até o fim (o que é "o fim"?), penso que talvez possa querer com isso me dizer algo... Talvez seja ali e onde mais possa estar com meus estudos e trabalho o lugar perfeito do encontro do meu sonho com o sonho de Deus prá mim... Estou aberta ao devir de minha própria história, afinal, sou BAILARINA, e... que quero mais que dançá-la em direção ao infinito?

A LEI DE GERSON: ALGUÉM SE LEMBRA??

Quem nasceu depois de 1976 não sabe; a tal "Lei de Gerson" foi uma expressão criada naquele ano, por causa de uma propaganda d...