Este é um lugar de conflitos e tensões a mais das vezes não
apaziguadas; a casa de Iustitiae, deusa da mitologia romana
– balança; espada, seio desnudo; olhos vendados – representativa da justiça no
mundo ocidental. A casa de uma mulher que mede, castiga e absolve, mas que não
olha.
Nós somos as mãos dela e também seus braços – nós, os trabalhadores
da casa da justiça –, mas não com nossos olhos vendados, como os dela, pois,
sendo sua carne, dotados somos, uns mais, outros menos, de olhos que vêem.
Outros órgãos sensoriais são também para nós os olhos, pelo que com a casa e na
casa sofremos nós, seus tijolos humanos, carne viva sob esta pele maltratada.
Acima da casa está um céu infindo carregado de espaços e formas
de composições itinerantes a nos apontar a transitoriedade de tudo porque
lutamos aqui. Para este céu tão outro a
cada período do dia olhamos todos. Ele
muda os cenários e nos abre à esperança de tempos brandos, qual flash de um “sempre” vertido no
“hoje-aqui” de cada um de nós.
Para este céu olhamos; as cores que revela nos arredores e na
casa mesma nos tiram do cinza escuro dos conflitos diários – os de fora e os de
dentro. A beleza nos abduz por um
instante, mas não a todos no mesmo instante.
Fora ou dentro, alguém inda cego há sempre que nos tenta lançar no seu
próprio bélico cinza. Cinza alheio este,
que ilegítimo e ladrão, reclama mentes que não são suas e bens da paz que
desconhece.
Fletida em imagens, a beleza que nos torna humanos e nos abriga
a todos abre espaço por entre leis e regras revelando valores. Em meio às paredes rígidas o belo pede
passagem. Os olhos das mãos da justiça
finalmente se fazem sentir... e falam... e outros olhos já os escutam. Minerva,
deusa romana da sabedoria e das artes toma seu lugar no púlpito! Proclama em
mansa voz que o homem não é máquina e que por isso mesmo vale infinitamente
mais e sempre. Dor e gozo; frio-quente; feio-belo – os contrários se unem e
proclamam ao lado da deusa em alto e bom tom que sem Arte o homem não passa de
palha escorada em ferro velho!
A Beleza cura a soberba e outras loucuras humanas. Ela ameniza
as dores, clareia a visão e aponta o caminho; revela ao homem seu princípio e
seu fim.
(Por IuraBreyner Botelho
– escrevente técnica judiciária)
2 comentários:
Lindo texto! Inspirador.
Brigada! Quisera mesmo inspirar as pessoas, de fora ou de dentro deste lugar! Mudando os olhares, muda-se o comportamento...
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